Você deveria ir a um show do Chico Chico
Com voz surpreendente e postura cênica arrebatadora, ele é um fenômeno.
Olá, tudo bem?
O bom da música é que de vez em quando a gente é pego de surpresa.
Desde quando Chico Chico despontou no horizonte, comecei a flertar levemente com o trabalho dele. Os poucos vídeos aos quais assistia me impressionavam pela sua voz. Suas composições autorais, tipicamente brasileiras, também. Mas, até mesmo pela sua postura avessa à mídia, que o queria celebrar por seu histórico familiar (ser filho de Cássia Eller), àquela altura, eu compreendia que ali estava um artista ainda em gestação.
O xeque-mate para mim veio com a performance dele com a Maria Bethânia no Manouche (RJ), para a canção “Em nome de Deus”, do Sergio Sampaio. O que me encantou não foi o virtuosismo de seu canto, tampouco a generosidade de uma cantora tão experiente e seletiva como ela a dividir o palco com Chico Chico: foi a ousadia do cantor em surpreendê-la, como uma criança levada, com um beijo em seu rosto de tal forma que desarmou a dureza de Bethânia. Ali Chico Chico me pegou de jeito e eu parei para dar maior atenção.
À convite de seu produtor, Oscar Vasconcellos (¡gracias!), tive a felicidade de assistí-lo no último domingo no Centro Cultural São Paulo (CCSP), dentro da programação da Virada Cultural. Casa lotada de gente interessada em ver e ouvir o que ele tinha nos mostrar. Mesmo com um dedo quebrado, que o impossibilitou de tocar violão, Chico Chico acabou por se mostrar um excelente artista de palco - e, ainda bem que estava sem o seu violão, pois isso o deixou livre a caminhar por todo o espaço cênico.
Claro, tem horas que é inevitável a comparação com a mãe, Cássia Eller. Tem algo ali da filiação que extrapola a certidão de nascimento. Os drives na voz, os maneirismos de palco, a timidez, o poder magnético de engolir o público. É lindo ver/ouvir/sentir que Cássia permanece. O que eu acho chato (e até mesmo cruel) é apenas referenciá-lo como “o filho da Cássia Eller”, antes de apresentá-lo como o excelente cantor, compositor e performer que é. Ser filho da Cássia Eller é uma característica importante, mas não o reduz.
Chico Chico tem um trabalho autoral muito interessante (inclusive, “Ribanceira” figurou com êxito na trilha sonora do remake de Pantanal), mas ele brilha ainda mais como intérprete, não tem jeito. Sua presença cênica, suas artimanhas vocais, sua intensidade, sua escolha de repertório, tudo nos apresenta um Intérprete com I maiúsculo - e olha que somos carentes de vozes masculinas boas na música brasileira. Chico Chico é daqueles intérpretes que, como Maria Bethânia e Cássia Eller, tomam a canção dos outros de uma forma extremamente autoral - como se elas sempre tivessem sido suas. Uma grata surpresa foi ver como ele deu uma roupagem interessantíssima à dura e bela canção “Norte", do Posada. E um dos momentos mais emocionantes foi quando homenageou a Rita Lee com “Menino bonito".
Se você um dia tiver a oportunidade de ir a um show de Chico Chico, abrace essa chance que o universo lhe dá. Música é feitiço.
Deixo aqui com vocês o encontro dele com Maria Bethânia no Manouche.